quinta-feira, 10 de maio de 2007

(sem título ainda)

A noite é tão triste...

A noite é tão quieta, que abre espaço pro coração falar... e este, tão machucado, tão rancoroso e desiludido, só fala de coisas tristes.

A noite é solidão, e não há ninguém com que dividir as lembranças.

E não adianta falar com a noite, pois ela abafa todos os ruídos.

É só você e seu coração.

Nesse diálogo transtornado, dialogadores não se aliviam, não se apóiam um no outro, pois ao mesmo tempo que falam coisas diferentes, no fim é a mesma essência, o mesmo sentimento, e não há um espírito contrabalanceador que anule as forças melancólicas que emanam do coração. Não há ombro que acolha as lágrimas, não há maciez que conforte um coração palpitante.

Para algumas pessoas a noite chega durante o dia.

Para outras, a noite é permanente. Estendeu-se depois das 6 da manhã, o (celular tocou mas ela não se tocou, e ficou. ) despertador tocou mas ela não se foi. Acordam e vão trabalhar sozinhos, no escuro. É o caso de pessoas que vão dormir tristes, e a primeira coisa que fazem quando acordam, é chorar. Depois de horas rolando na cama à procura do vazio do sono, a hora chega e o despertador toca, e tudo que se esqueceu durante as horas vazias volta com força como se não tivesse passado o tempo. O espaço do seu quarto é a afirmação da noite, é o vazio que lhe dá a liberdade de ser triste. Mas a partir de agora a noite tem que ser interior. Pessoas na rua e colegas de trabalho não podem ver alguém andando em noite, em pleno dia. Não entenderiam ou não saberiam lidar. Ou achariam incômodo. Então a pessoa encerra a escuridão com um sorriso, fingindo que está tudo bem, tudo claro...

Mas a escuridão vaza pelos olhos... Algumas pessoas são capazes de perceber um brilho molhado de choro no olhar mais bem disfarçado. E mesmo assim niguém consegue esconder sua noite inteiramente. Como a menina que quando criança apanhava muito do pai, e hoje conta isso aos seus amigos em tom de brincadeira, junto com seu irmão. Os dois bem humorados, falam rindo, como se fosse piada. Os amigos riem também. Mas os olhos da menina se avermelhavam e incontrolavelmente, se enchiam de água. Por mais que falando sobre seus traumas tivesse um sorriso nos lábios, não conseguia controlar o rompante de tristeza que tinha ao lembrar do passado, seus olhos lhe traíam, e jorravam a noite dentro dela...

Quando a noite aparece em pleno dia, é um pedido de ajuda. Mas quantos dentre nós terá sensibilidade necessária para ler esse pedido no olhar? E se tiver, terá coragem o bastante para oferecer ajuda, nem que sejam apenas ouvidos que não abafem os sons e olhos de compreensão, nem precisaria ser um abraço macio... Mas se essa pessoa existisse, o ser triste da noite estaria aberto a aceitar essa ajuda?

Não somos irmãos, como pregou Jesus. Somos todos estranhos, porque temos medo de ouvir e falar sobre nossas tristezas. Pois se chegarmos a emitir os sons, pior que serem abafados é bater na superfície dura de indiferença e voltar ecoando, ricocheteando na pele e machucando. Estamos todos desiludidos com a capacidade de amor ao próximo, por isso nos isolamos cada vez mais.E quando a noite chega e tudo fica silencioso, quando apagamos a luz e colocamos a cabeça no travesseiro, seu coração começa a falar de tristezas, e tudo que se quer é deixá-las sair, não escutá-las sozinho.

Mas não há ninguém que possa ou queira escutar.

Estamos todos sozihos na noite.

Um comentário:

Alle Nascimento disse...

meu deus... Sensacional este texto Parabéns, de uma sensibilidade única... gostei do seu espaço, vou linkar, posso?


abç