terça-feira, 11 de setembro de 2007

Poema incompleto

Só ele que me faz.
Só ele que me traz.
Só ele tem aquele...

Junto dele eu senti.
O tempo passou e quando vi
já não era mais.

Segui sem pensar na.
Tentei esquecer de.
Já que saber perdoar é.

domingo, 9 de setembro de 2007

Carta de paixão metafísica

Brasília, 15 julho de 2008

Não sei porque fiquei com você, desde o início.Por uma besteira, coisa de brincadeira, nem era sério.Nem sei porque me fascinei tanto.

Devo confessar que você se mostrava uma pessoa diferente de tudo que conhecia e que batia comigo em alguns pontos. A cada dia você ficava mais interessante pra mim.

Eu neguei e lutei contra, confesso, a responsabilidade por isso é minha. Mas sinceramente, acreditava que não devia me apaixonar. Mas acho que não sou eu que mando nisso, afinal, besta que sou, nem reparei nos indícios... de que algo ia começar.

E a coisa ficou pior do que imaginava. De repente, você já estava meio que dentro de mim. De repente, seu espectro permeava o meu redor, e eu gostava disso. Gostava de sentir sua supraessência exalando por entre a minha, sentir-lhe perto, numa coisa muito mais metafísica que romântica, se é que me entende. Uma coisa muito mais de respirar suas moléculas e sentir que elas difundem dentro de mim...

Desculpe se falo de coisas sem sentido, mas estou apenas transcrevendo as imagens que aparecem na minha mente. As associações na minha cabeça vão num ritmo que nem eu mesmo consigo compreender, as idéias se formam antes que eu tenha domínio sobre elas. E no meio de toda essa bagunça você surge, ou melhor, emerge, etéreo, magnético, e eu quero te possuir todo, penetrar toda sua alma, ler os seus códigos. Quero estabelecer uma conexão alma-mente, o que você talvez não concorde, não compreenda, e esteja achando que estou aqui falando um monte de bobagens...

Não sei porque escrevo tudo isso, nem sei se vou enviar essa carta, na verdade alimento um desejo secreto de que um dia a ache sem querer no meio de um caderno e leia espontaneamente, e se surpreenda com tudo que disse. Porque não imaginava que me sentia assim. Ou porque sabia que eu me sentia assim, já que era exatamente o que sentia. Qualquer um dos dois iria me satisfazer.



Não faço idéia do que há por vir nessa jornada. Nem sei mesmo se esta acabou, já que a distância entre nós não permite que eu compreende o que você sente ou deixa de sentir. Mas pra mim é assim: Se eu me envolvo, tem que valer a pena. Tem que ser profundo, ficar marcado como cicatriz- No bom sentido, claro, nada de machucar. Falo de uma troca intensa de vivência, de vibrações, um compartilhamento de energias, coisas que além de uma história, trarão nova parte de mim.

Porque estou nessa vida para crescer, e para isso convivo com as pessoas, porque elas podem trazer importantes experiências, as quais mudam todo o nosso destino. Claro que algumas não tem todo esse poder, enquanto outras tem esse poder e muito mais. Acho que você já sabe em qual categoria te enquadro; Já sabe também o que espero que me traga.

Se eu realmente te mandar essa carta pelo correio, não repare o modo antigo. É que escrevi isso tudo direto no papel, acho que assim as palavras ganham mais força e me ajudam a aliviar essa tensão de guardar todo esse sentimento. Se eu digitá-las no computador, se tornarão apenas dados virtuais, irreais. Assim garanto que você vai ler o que escrevi, saber o que sinto e penso, pois mesmo que já não queira mais se relacionar comigo não terá coragem de jogar a carta fora sem abrí-la, e a curiosidade faria com que quisesse saber do que se trata. Posso mesmo mandar a carta sem remetente, assim você só saberia que é minha depois que começasse a ler, e acho até que é isso que farei.

Acho que já disse tudo, já me esvaziei dos sentimentos que pesavam em meu peito, trazendo falta de ar. Mais uma vez, obrigada, por ler isso tudo. E não precisa mandar resposta. Pode até mesmo fingir que nunca leu essas palavras. Só me mande um sinal, qualquer sinal, de que você ainda sabe que eu existo...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Sobre a faculdade de enlouquecer pessoas

É um poder talvez mais comum do que se imagine. Talvez seja um poder flutuante, que só surge em determindas épocas, em determinadas circunstâncias. Certas pessoas são capazes de confudir nossa cabeça de tal forma, que com os pensamentos todos embaralhados imaginamos as histórias mais mirabolantes, as situações mais improváveis, e o pior- acreditamos nelas!

Essas pessoas enlouquecedoras se aproximam de nós demonstrando um certo sentimento, um certo caráter. Mas via de regra, agem de um modo que pode ser interpretado facilmente como completamente contrário ao que dizem ser. Como se não bastasse, outras pessoas começam a ser envolvidas na história, pessoas essas que quase sempre estavam mais perto do que você imaginava, e para sua surpresa podem influenciar completamente na sua vida.

É aí que começa a magia, ou feitiço, ou a transmissão de ondas telepáticas , o que quer que seja que esse poder faça, ele exerce uma influência psíquica-psicológica, que te deixa tão incomodado com o caso que quando vai analisá-lo sua mente embaralhada não consegue ter clareza. Ao passo que a pessoa vai se aproximando de você cada vez mais, te envolvendo cada vez mais, e quando você vê, pensa mais nela do que queria, ou melhor, pensa mais na confusão do que seria saudável, até atingir um estágio quase obcessivo. Nesse momento você tenta se afastar, e alguns até conseguem tal feito. Outros, porém, com ajuda do destino, ou do acaso, são colocadas em circustâncias em que é impossível fugir do efeito do enlouquecedor. Ocorre então um afastamento afetivo mas não físico, o que faz com que o resultado das ondas telepáticas aumentem, até que a força magnética entre os dois desfaça a separação.

Esse estágio é o mais perigoso. É quando o enlouquecedor vira o jogo, e ele próprio provoca o afastamento, sem deixar de transmitir suas ondas maléficas. Para aumentar o dano, ele faz isso de modo que primeiro se imagine uma possível reconciliação iludindo a pessoa sobre os sentimentos que estariam em jogo. E logo após demonstra uma certa aversão ao que ele própio determinou, cortando em seguida os laços de comunicação. A pessoa enlouquecida fica desamparada sem saber o que pensar e sem a mínima noção do que está acontecendo na cabeça do agente enlouquecedor.

Como deter esse tipo? Existe alguma proteção sobre sua influência? E depois que o dano já foi causado, o que fazer para remediar? Até aonde o enlouquecedor será capaz de ir para se satisfazer? Essas são as respostas que busacamos encontrar, para o bem da própria humanidade.

domingo, 5 de agosto de 2007

Bar do Portuga

Que vê do lado de fora acha que é um buteco como todos os outros, que a galera vai pra tomar cervejada numa sexta à noite. Mas quando você entra a sensação é de surpresa. Pra começar a porta é daqueles bares de faroeste, que combina perfeitamente com os assentos do balcão- feitos de sela de cavalo. As paredes são de um tom avermelhado e a iluminação é mais fraca, o que deixa o lugar bem aconchegante. Estava esperando um boteco copo-sujo, mas me deparei com um ambiente familiar de decoração pitoresca- Lá dentro haviam vários casais sentados nas mesas, e minha amiga e eu montadas no balcão. Este também tinha outra peculiaridade: Era decorado com moedas de várias épocas, vários países, e também notas antigas, que ficavam embaixo do verniz, o que fez com que eu achasse que era um desenho ou uma pintura, mas minha amiga me tirou a dúvida- eram mesmo de verdade! Pedimos um chopp, muito bom por sinal, e me pus a reparar a decoração à minha volta.


Pra começar, a porta do congelador da Skol estava coberta com desenhos de uma criança, da filha do português, que era o dono do bar e também ficava no balcão atendendo e anotando pedidos. Em seguida reparei dois barris: um era grande e de madeira, guardava o chopp, e o outro em cima do balcão, parecia ser feito de acrílico por fora mas tinha uma textura de madeira e formato de tronco de árvore. Descobrimos depois que armazenava o licor da casa, feito a base de cachaça e com um leve sabor de menta. Enquanto Tomávamos nosso chopp e conversávamos o portuga colocou na nossa frente dois pires, um doque parecia ser uma espécie de semente, grão ou broto, tinha forma de confete mas era de uma cor crua,meio bege, e era úmido. O outro vazio. "Morde, tira a casaca e coloque aqui" ele falou com aquele sotaque português mostrando como se comia o aperetivo estranho. Perguntamos como se chamava mas nem eu nem Aline entendemos o nome direito, algo parecido com "toromosso", mas sabemos que é muito comum entre portugueses, árabes e um outro povo que não me lembro mais no momento.


Aproveitando o momento começamos a conversar com o dono do bar, elogiar o chopp, a música e a decoração- estava tudo muito agradável. Conversa vai, conversa vem, descobrimos que o nome dele era Mário, já tinha vivido nos Esetados Unidos muitos anos e estava há apenas 4 anos no Brasil. Já fazia mais de vinte que havia saído de Portugal. Se ele preferia aqui ou os EUA? "Não dá pra comparar, são dois lugares muito diferentes, cada um ao seu estilo de vida." Gostava de ter o Bar mas não era o que ele tinha imaginado pra si- Uma vida calma na fazenda... Enfim, eu e Aline somos tão simpáticas que conquistamos a simpatia do seu Mário, e até mesmo do garçon, e acabamos ganhando duas doses cada uma do aperitivo da casa! Ou talvez tenhamos chamado atenção de todos por sentarmos nas selas, já que o público de lá era mais casal mesmo e ficavam nas mesas. Bem reparamos que tava todo mundo olhando...


Mas tem coisa mais divertida que montar numa sela e tomar chopp num balcão repleto de moedas, ao mesmo tempo em que se admira os detalhes de toda aquela decoração inusitada? Durante toda a noite me ocupei em guardar os detalhes. A parede era toda patinada, o teto de bambu, e o forro da área do balcão de telhas; e assim como no teto e nas paredes a iluminação se dava por uma mistura de objetos pertencentes a cenários totalmente distintos: pequenos candeeiros enfeitavam os espaços entre as mesas, equanto outro maior proporcionava uma iluminação mais ou menos leve com uma lâmpada fluorescente no seu interior. E no teto dependurava-se um candelabro de velas, daquelas que têm uma lâmpada diminuta imitando a chama. Nas paredes gravuras, tapeçarias, quadros, e serrotes! Serrotes de verdade pregados na parede, com um círculo de madeira sendo cortado.



Algo que reparei só no final da noite foi a sineta. O balcão tinha uma abertura para o lado de fora por onde entregavam os pedidos, e a sineta que servia para chamar atenção do portuga era um penduricalho de estilo místico ou esotérico, feito de metal com tres pingentes: Dois sóis e uma lua no meio. Foi de longe o que mais me atraiu, já que adoro esse estilo. Já para Aline o que mais fez sucesso foi a máquina de café expresso que ficava do lado do barril de licor- Ela é viciada em café. Depois dos chopps pediu um para experimentar, e o pó era de altíssima qualidade- Pelo menos o cheiro estava divino...



A essa altura já era quase meia-noite e íamos virar abóbora, então pedimos a conta (que acabou saindo baratíssima, já que o portuga não nos cobrou nem o cover nem os aperitivos) e ligamos para a carona. Nos despedimos de Mario com a promessa de que iríamos voltar lá, e dá próxima vez iríamos tomar mais chopp, aperitivo e café, montadas na sela, é claro. Penso em ir já nessa sexta-feira. Tirarei fotos!

domingo, 29 de julho de 2007

Pedras

Noites de insônia
Travesseiros molhados
Marcas de unhas nas mãos....
Por fim a aceitação.

Ainda assim, persite uma esperança
Incômoda
De que um dia o botão desabroche em flor.

Talvez porque precisasse desse diamante-bruto
Talvez porque pensasse que fosse o único
Mas afinal, talvez, nem fosse diamante.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Desejo

Ela acordou com uma música no vizinho. Seus vizinhos sempre tinham gosto bom pra música, por isso nem se incomodava. Achva gostoso acordar, ficar na cama ouvindo a música baixinha... Quase sempre era um piano tocando. Continuou deitada alguns minutos, quietinha, esperando pra ver se conseguia lembrar o que sonhou. Era um sonho gostoso...Ah, sim, aquele cara. Sonhara com ele.

Levantou de uma vez.Tinha dormido com a cortina aberta, para deixar a luz entrar de manhã e acordar mais delicadamente. Assim acordaria mais cedo. Ainda que não tivesse nada pra fazer, ainda que estivesse de férias e todos os seus amigos estivessem viajando, ainda que estivesse sozinha em casa e na cidade, queria acordar. Levantou da cama e trocou de roupa. Daria um passeio? Pela janela entrava o sol forte e quente. Sim, o dia era bem bonito para um passeio. Mas que sabe depois? Primeiro um café...sentar no sofá assistindo TV, ou apenas ouvindo a música do vizinho.... Hum, hum hum...cantarolava a melodia sem saber a letra. Tudo calmo em casa e resolveu ligar o computador. E ao digitar o endereço certo e começar a aparecer a página, um nervosismo que era quase um pressentimento- Vai chegar alguma notícia. Não sei se vou gostar.

E ao mesmo tempo, do nada veio o pensamento- acho que ele gosta de mim de verdade, acho que gosta mesmo.

E para que entendesse as duas mensagens conflitantes, foi para outro site, tomar coragem de abrir seu e-mail. Pensou, pensou, pensou- o que poderia ser? Uma decepção, com certeza. Se era uma mensagem que não iria gostar, e achava que ele gostava dela de verdade, então era uma mensagem que dizia que ele não gostava dela... Então ele não gosta! Decepção, mas também não era o fim do mundo. Amanhã a vida continua e outros homens estão lá fora livre e desempedidos. Era até melhor. Pra que insistir no que lhe faz mal? Conformou-se, já que era pra se decepcionar vamos fazê-lo de uma vez. E foi abrir a mensagem. E nem um nem outro, não era tão simples assim. Nem eu te amo muito menos eu te odeio. Nem sim nem não. E continuava tudo em suas mãos. Por um lado alívio, por outro dúvida. Ele falara a verdade- em partes. De novo isso tudo...

Algumas coisas na sua vida insistiam em ser uma constante repetitiva. Sempre se envolvendo, se apaixonando, sem ao menos saber quem é a pessoa. Mas acaba que é sempre assim: Encontro, conhecimento, desencontros, desencontros, desencontros, paixão, que não se controla; vontade...e o perigo. O perigo sempre presente, mas que ela ignora, e continua se envolvendo, vai andando de olhos fechados. Espera cair. Mas no final sempre recebe flores de reconciliação- Rosas vermelhas. O amor sempre cega e o que se vê é a cor berrante que te chama, é divertida. Acaba, sim. Más só depois das rosas, só com a distância. Tudo igual, com esse também vai ser... E aí cansou de ouvir a música do vizinho, cansou do computador, foi ligar o rádio- o velho rádio a pilha que tinha o tunnig manual ainda- e estava tocando Ana Carolina. 'Porque eu gosto é de rosas, e rosas, e rosas'. Sim, ela também gosta de rosas. Dizia que não, mas como ignorar? No final, ela gosta de rosas. 'Toda mulher gosta de rosas, rosas e rosas...' Que sempre são vermelhas, e acompanhadas de bilhetes a deixam satisfeita, ainda que nervosa.

Toda mulher gosta, nem que seja só de vez em quando,de um amor desentendido. Confesse, pare de se enganar. Era isso que ela queria, era por isso que acontecia sempre a mesma coisa. Ainda que achasse que era obra do acaso. Não. Ela que queria. Aquele namoro montanha-russa, cheio de altos e baixos, brigas e discussões- Algumas em público. No outro dia um "desculpe" e "eu te amo,não consigo viver sem você..." aquelas mentirinhas que a gente conta e o outro finge que acredita. Desencontros, desentendimentos, discussões, e outra coisa com D que não conseguia lembrar...

__Alô? Oi...Caramba, acredita que sonhei com você hoje?...

Ah sim, Desejo.

__Não, não vou fazer nada... Claro que eu quero te ver!

E no fim... ele sempre liga, ela sempre atende.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Autólise

Meus olhos furados com agulha
Escuridão emerge dentro e fora
Os ouvidos preenchidos com cera
silêncio sepulcral

Garganta cortada
não emito mais nem um ruído

Me desmancho em lágrimas, literalmente
minha pele vai derrentendo aos poucos
minhas vísceras saem pelos olhos
lágrimas de sange

Massa disforme no chão.

Algumas coisas que eu escrevo me dão medo.

Me engana

Inevitável pensar em você
inevitável ver o seu rosto
inevitável sentir o seu cheiro
imaginar os seus braços me enlaçando
o seu beijo em meu pescoço

Você é presença constante
Essência que se alojou em mim
posso estar longe ou perto
levo sempre você comigo

agora me diz
que você é todo meu
que não pensa em mais ninguem
só meu...
fala que me ama como nunca amou ninguem
e que só vai me amar
pra sempre!

Me engana...

O tema não é poesia mas eu gosto dessa.Tem mais de onde saiu e quem sabe um dia não faço um blog em versos...

sábado, 30 de junho de 2007

O que faz uma pessoa abrir o seu orkut de cinco em cinco minutos pra ver se tem um novo scrap a sua espera? O que faz ela ficar horas e horas na frente do computador conversando virtualmente com amigos distantes? Porque esse medo de voltar pra casa num sábado a noite e ficar fazendo algum trabalho, ou lendo, ou até mesmo assistindo tv...Porque as pessoas precisam tanto de compania, mesmo que seja uma compania vazia?

quinta-feira, 10 de maio de 2007

(sem título ainda)

A noite é tão triste...

A noite é tão quieta, que abre espaço pro coração falar... e este, tão machucado, tão rancoroso e desiludido, só fala de coisas tristes.

A noite é solidão, e não há ninguém com que dividir as lembranças.

E não adianta falar com a noite, pois ela abafa todos os ruídos.

É só você e seu coração.

Nesse diálogo transtornado, dialogadores não se aliviam, não se apóiam um no outro, pois ao mesmo tempo que falam coisas diferentes, no fim é a mesma essência, o mesmo sentimento, e não há um espírito contrabalanceador que anule as forças melancólicas que emanam do coração. Não há ombro que acolha as lágrimas, não há maciez que conforte um coração palpitante.

Para algumas pessoas a noite chega durante o dia.

Para outras, a noite é permanente. Estendeu-se depois das 6 da manhã, o (celular tocou mas ela não se tocou, e ficou. ) despertador tocou mas ela não se foi. Acordam e vão trabalhar sozinhos, no escuro. É o caso de pessoas que vão dormir tristes, e a primeira coisa que fazem quando acordam, é chorar. Depois de horas rolando na cama à procura do vazio do sono, a hora chega e o despertador toca, e tudo que se esqueceu durante as horas vazias volta com força como se não tivesse passado o tempo. O espaço do seu quarto é a afirmação da noite, é o vazio que lhe dá a liberdade de ser triste. Mas a partir de agora a noite tem que ser interior. Pessoas na rua e colegas de trabalho não podem ver alguém andando em noite, em pleno dia. Não entenderiam ou não saberiam lidar. Ou achariam incômodo. Então a pessoa encerra a escuridão com um sorriso, fingindo que está tudo bem, tudo claro...

Mas a escuridão vaza pelos olhos... Algumas pessoas são capazes de perceber um brilho molhado de choro no olhar mais bem disfarçado. E mesmo assim niguém consegue esconder sua noite inteiramente. Como a menina que quando criança apanhava muito do pai, e hoje conta isso aos seus amigos em tom de brincadeira, junto com seu irmão. Os dois bem humorados, falam rindo, como se fosse piada. Os amigos riem também. Mas os olhos da menina se avermelhavam e incontrolavelmente, se enchiam de água. Por mais que falando sobre seus traumas tivesse um sorriso nos lábios, não conseguia controlar o rompante de tristeza que tinha ao lembrar do passado, seus olhos lhe traíam, e jorravam a noite dentro dela...

Quando a noite aparece em pleno dia, é um pedido de ajuda. Mas quantos dentre nós terá sensibilidade necessária para ler esse pedido no olhar? E se tiver, terá coragem o bastante para oferecer ajuda, nem que sejam apenas ouvidos que não abafem os sons e olhos de compreensão, nem precisaria ser um abraço macio... Mas se essa pessoa existisse, o ser triste da noite estaria aberto a aceitar essa ajuda?

Não somos irmãos, como pregou Jesus. Somos todos estranhos, porque temos medo de ouvir e falar sobre nossas tristezas. Pois se chegarmos a emitir os sons, pior que serem abafados é bater na superfície dura de indiferença e voltar ecoando, ricocheteando na pele e machucando. Estamos todos desiludidos com a capacidade de amor ao próximo, por isso nos isolamos cada vez mais.E quando a noite chega e tudo fica silencioso, quando apagamos a luz e colocamos a cabeça no travesseiro, seu coração começa a falar de tristezas, e tudo que se quer é deixá-las sair, não escutá-las sozinho.

Mas não há ninguém que possa ou queira escutar.

Estamos todos sozihos na noite.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

A Lua-cheia

Era uma lua linda que nascia no céu, e tudo que podia pensar era em você. tantas vezes fomos naquele lugar, tantas vezes você ficou a admirar o céu ao meu lado, contar estrelas... eu ficava ali, rindo dessa sua meninice, do seu deslumbramento com as coisas tão simples, que a gente via todo dia na natureza.

Naquele dia que você me falou que conversava com as estrelas, eu tive vontade de rir. Te achava mesmo uma criança, uma menininha, e isso te deixava irritada. Apesar da nossa grande diferença de idade- eu já com mais de vinte e cinco e você apenas desessete- você gostava de estar sempre equiparada a mim. Se sentia madura, consciente. Mas eu não vi você assim, ainda mais por causa do seu jeito brincalhão de falar com as pessoas, nunca dizendo extamente o que queria dizer- eu achava que você simplesmente não sabia do que estava falando. Agora eu te entendo, minha querida, entendo perfeitamente o que se passava nessa sua cabecinha...

Mas na época eu não sabia, não te compreendia, culpa da minha ignorância, da minha má vontade e falta de paciência. Eu queria tudo explicado, do meu jeito, queria que você pensasse igual a mim, igual aos meus amigos do trabalho, aqueles que conviviam comigo. Mas era extamente aí que estava o seu poder de me encantar: você via o mundo de forma diferente. sentia-o, comunicava-se com ele. Eu não possuía essa ligação que você tinha com a natureza, não podia entender porque você gostava tanto de sentir o vento, e me mandava ficar calado quando estávamos sozinhos perto da cachoeira, e tudo que eu queria era te beijar e te abraçar, mas você queria ficar parada, de olhos fechados, escutando o barulho da água... O que será que você escutava quando ficava em silêncio?

Teve um dia que você me disse: "quando eu morrer, não chore por mim". Fiquei furioso! Briguei com você, falei para que nunca mais dissesse uma coisa dessas. Eu não queria pensar em tal coisa! a idéia de um dia não te ter mais perto de mim me doía demais... Além disso, achei que você duvidasse do meu amor, como não iria chorar por você? Você era tudo que eu mais queria na minha vida, no momento em que não a tivesse mais seria como se o mundo se abrisse sob meus pés... então você me respondeu "Se você chorar, eu vou ficar muito triste..." Claro que não entedi o que isso significava, achei que era só uma desculpa para amenizar o que tinha dito antes... como uma pessoa pode ficar triste depois de morrer? Ah, lindinha, me desculpe por não ter te compreendido! Me desculpe por ter apenas ouvido, e não escutado suas palavras...

No dia em que recebi a notícia de sua morte, meu coração quase parou de bater, e a primeira coisa que me veio à cabeça foram suas palavras. Tive raiva, meio que achei que você tinha feito isso de propósito pra me machucar, que já sabia o que ia acontecer... Que tolice! Você nunca faria uma coisa dessas, não sei porque fui tão estúpido nessa hora... Não pude ir no seu velório, estava em outra cidade, longe...e nem queria ver o seu corpo inerte, seria horrível e doloroso. Naquele dia fui para o mesmo lugar nas montanhas em que costumávamos ficar, sozinho, fui de tardezinha e fiquei até o anoitecer. Queria ficar sozinho com minha dor... Fiquei pensando em tudo que já tinhamos passado, tudo que você era pra mim, o seu jeito... Foi então que a lua surgiu no céu, brilhante, redonda e enorme. Parei um minuto de chorar e fiquei olhando para ela, extasiado. Nunca tinha visto uma lua assim. O céu se tingia de roxo no horizonte, e duas estrelas pipocavam - uma dela era vênus, como você me ensinou a primeira que aparece com o entardecer, e a sua estrela. Naquele momento eu te vi, Gabriela, vi sua face na lua, senti sua presença tão fortemente que era como se você me abraçasse e me beijasse suavemente nos lábios...

A emoção foi tanta, que comecei a falar. Falar, simplesmente, conversar com a lua, falar o que estava sentindo, o que me vinha à cabeça! Então eu fiquei em silêncio. Comecei a me lembrar de tudo que você já tinha me falado sobre o céu, a força dos astros, sobre a natureza...Fiquei em silêncio, apenas escutando o barulho da natureza. E de repente, eu entendia o que aquilo queria dizer. Parei de chorar no mesmo instante, minhas lágrimas secaram, pois eu não queria que você ficasse triste. Fiquei só com a montanha, esqueci do resto do mundo. Esqueci até mesmo que eu era uma pessoa na sociedade, esqueci que tinha um trabalho, uma família... Eu era apenas um ser da natureza, e senti vontade de ficar nu, como tinha vindo ao mundo. Me integrei totalmente com o ambiente. Escurecia, mas eu não tinha medo. Eu estava protegido, estava tranquilo- porque você estava comigo. Você era aquela lua, que irradiava tanto brilho, e me dizia para prestar mais atenção aos sinais da vida, um vento que sopra, o formato das nuvens do céu... Tudo isso tem um significado secreto, mas que é possível de se sentir. São esses pequenos elementos que regem a nossa vida, e que deixamos passar despercebidos....

Acabei caindo no sono, e tive sonhos magníficos. Sonhei que estávamos de novo na cachoeira, e que simplesmente escutávamos o barulho das águas caindo. Quando acordei, já era de madrugada, e tive que ir embora. Agora não choro mais por você. Sinto sua falta, mas toda noite, converso com as estrelas, e sei que você escuta o que eu falo...